Pizza de metrô

SE MENTIRA FOSSE UMA PIZZA, SERIA UMA BROTINHO?

           Voltando do colégio cruzo com um menino de roupa surrada, de uns 11 anos, na saída do metrô. Ele vem falar comigo:
           — E aí tio, têm uns trocados? Preciso comprar uma coisa.
          
— Que coisa?
          
Ele olha pra cima, pro canto…
           — Ehhh…uma pizza. Isso, uma pizza
          
— Pizza? Numa terça à tarde, acho que nem vende.
          
— Lógico que vende, na promoção ainda, ali no seu Mar…Mateu…Moacir. No seu Moacir.
          
— E onde fica? Sempre passo por aqui e não ouvi falar dele.
          
— É que ele acabou de abrir e fica ali na rua de cima, virando esquerda, depois na direita na diagonal na Ladeira da Morte.
          
— Mas isso nem é nome de rua.
          
— Ah, é o apelido que os skatista deram. Na real, nem sei qual o nome oficial dela não. Mas e aí, vai ajudar?
          
— Olha, posso ir ali no bar do outro lado da rua e pedir um pão de queijo pra você, que tal?
          
— Não rola, sou vegano.
          
— Mas vegano também não come pizza.
          
— É ainda não sei o que significa ainda. Só sei que gente rica é vegana e eu quero ser rico também.
          
— Bom, foi mal, mas eu não tenho trocado pra uma pizza inteira.
          
— É só pra inteirar, tio. Aí vou juntar com os trocado que outros moleques tem.
          
— Mas não tô vendo nenhum outro moleque aqui – digo, enquanto olho em volta.
          
— É que…foram buscar a 1ª pizza. É que são muitos, aí precisamos de 2 pizzas.
          
— E deixaram você aqui sozinho, sei…
          
— É preconceito com vegano.
          
— Oh, você falou muita coisa, mas não me passou confiança, como vou confiar que você não vai comprar droga?
          
— Tá louco, quem vai trocar uma pizza por droga?
          
— É, você tá certo. Tá bom vai, vou te ajudar com 2 reais que é o que eu tenho aqui.
          
— Você tem cara de idio…digo, de rico. Vê logo 5.
          
— Não, vai 2 mesmo.
          
Assim que recebe a nota, o menino sai correndo pra pedir dinheiro para outra pessoa.
          
Vou subindo a rua. Quando vejo descendo 7 moleques mais velhos tomando conta da calçada. Eles me cercam e o líder, num tom mais agressivo manda “aí tiozão, me vê dá 10”. Fico meio acuado, sem saber o que fazer, pensando que vou dar 10 por espontânea pressão até que ouço:
           “Libera aí ele aí Vands, que o riquinho é firmeza.” – o primeiro menino com quem conversei, grita ao longe.
           Todos abrem a roda e me deixam passar. Continuo meu caminho até que vejo, logo em seguida, um oitavo moleque carregando uma caixa de pizza e nela estava escrita: Pizza “Seu Moacir”.