Abrisersário

Uma festa que é pura viagem

            Recebo uma mensagem da Mari dizendo que a porta está aberta. Eu, Re e Tiago entramos e nos deparamos com uma sala decorada com cores pasteis e madeira. Conforme andamos pelo corredor seguindo a música pop, tenho a sensação de que a casa fica cada vez maior. Passamos pelas portas do banheiro, cozinha, sala de jantar e uma escada para um 1° andar. Tudo parece se encaixar perfeitamente: os móveis, a posição dos cômodos, a pintura, a decoração, como se a casa pertencesse a parte rica do Titanic – antes de afundar. Chegamos até a uma escada que leva onde a festa realmente acontece.
         
—  Aqui, gente! – Mari acena lá de baixo.
         
Descemos os degraus e Mari, com seus olhos de pôr do sol e jeito de champanhe com morango, vem logo nos cumprimentam com um abraço apertado.  Em seguida vem Bruna, a aniversariante, com cabelos de ondas do mar e que além irmã da Mari, dava uns beijos sem compromisso no Tiago.
          Ao nosso redor, em cima do piso de cimento, estão uma mesa com salgados, pizzas, sanduíches, um enorme isopor com bebidas e gelo dentro, pessoas e cadeiras de diversos tipos, uma churrasqueira abandonada e um quarto com uma janela em que é possível ver toneladas de coisas empilhadas. Dá pra notar que estamos no refúgio dos móveis planejados, onde a bagunça é permitida, onde Mufasa descreveria como: “o lugar em que sol não toca.”
         
Depois de horas de risadas, bebidas e fofocas, cantamos os parabéns e nós 3 saímos para fumar unzinho na frente da casa – no caso, o Re foi fumar e eu e o Tiago só fomos recarregar a bateria social.
         
A gente fica lá um tempo, volta e de repente, o clima está diferente. Bruna nos vê, dá um beijão em Tiago e eles somem na festa de mãos dadas. Um dos convidados, de óculos escuros, se aproxima da gente:
          — Vem cá, vou aqui pensar numa coisa e vocês vê se me entendem – ele diz enquanto aperta os olhos e coloca a mão ao lado da testa.
          — Tô recebendoooo, cara – Re diz.
          — Pra mim não veio nada – respondi.
          — Acho que sua internet é discada ainda, mas com certeza, vai chegar o pensamento aí. — o rapaz sai para comer uma pizza.
          Aliás, um formigueiro de pessoas faz uma fila bagunçadamente organizada para pegar as comidas de uma só vez. Enquanto isso, a mãe de Mari e Bruna, Dona Edileusa, abre a porta do quartinho, retira uma bike ergométrica e começa a dar aula de spinning para algumas pessoas que imitam exercícios com bicicletas imaginárias.
          Vou ao banheiro e me deparo o pai de Bruna, Seu Inácio, batendo na porta. Alguém lá dentro xinga e ele novamente bate.
          — Não tá vendo que tá ocu… — Tiago abre a porta enfurecido quando dá de cara com Seu Inácio.
          Seu Inácio vê Tiago saindo do banheiro seguido Bruna com batom vermelho borrado. Seu Inácio rir sem parar e dá uma leve tapinha no obro de Tiago que fica com um sorriso amarelo.
          Quando noto, no cantinho, do lado de 3 senhoras cantando louvor ao som de Ivete Sangalo, alguém rindo descaradamente enquanto segura uma panela: Mari.
          Vou até lá.
        — O que tem aí?!
        — Nada não. É brigadeiro só.
Entre uma palavra e outra, ela falha miseravelmente em segurar risadinhas.
       — Certo… O que tem nele? – pergunto a olhando nos olhos.
       — Ah, nada demais, o de sempre: chocolate, leite condensado e… maconha.
      — Mariana! Você deu brisadeiro pra todo mundo na festa?
      — Eu e a Bruna nunca experimentamos aí queríamos dividir essa alegria com esse povo liiindo. E foi uma colherzinha só – e me mostrou uma enorme colher de pau junto com a panela raspada.
     — Pera, que horas que foi isso?
    — Depois do parabéns, pra dar aquela animada. Pera… – ela coloca a mão na barriga – acho que preciso deitar um pouco.
        Mari então sobe as escadas e um tempinho depois, vai Bruna. Pergunto pra Tiago o que houve e ele me responde: “começou a sentir uma dor de barriga do nada.”
        No fim, a festa foi uma viagem que todo mundo curtiu sem saber o motivo ao certo, exceto por Mari e Bruna que terminam a noite passando mal na sala por causa, de acordo com as próprias, de muito leite condensado.







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