Amizades e formaturas

Já dizia o poeta: que as formaturas sejam eternas enquanto durem.

  ㄧ Sabe que a gente nunca mais verá o Felipinho né!? ㄧ É o que Vini me diz enquanto olhamos nosso amigo se despedindo dos outros.

 Acho que o Felipinho já trabalhava com a gente há uns 2 anos. É aquele tipo de cara que passa despercebido de longe ㄧ e de perto também ㄧ pois sempre foi muito calado. Mas depois um tempo, ele começou a ouvir as conversas de canto e logo soltava um comentário sarcástico e bem baixinho, algo que só quem estava do lado tinha o prazer de rir junto; virou uma companhia disputada nos almoços.

Era um exemplo de foco. Nunca tirava o olho da sua tela, nem da dele e nem das nossas, sabia que o Vini cantava para plateia imaginária em um show não tão particular, enquanto o Danilo fazia trabalhos da faculdade, ao mesmo tempo que a Luciana via a programação das ondas do final de semana na praia, e eu disfarçava para escrever textos fora da pauta – inclusive ele já teria lido essa crônica. E não só de fofoca eram suas teladas (Aqui vale uma explicação: Telar. Verb. Tr. bisbilhotar a tela de computador ou celular alheio)

Criamos o “Selo Felipinho de Qualidade”, entregue aos recebedores dos e-mails em branco, cujo o assunto explicada tudo: “me passa essa referência aí “. Um atestado que o conteúdo da sua tela era interessante. Embora o prêmio de verdade era de quem ele respondesse no whats, a gente só sabia que ele lia as mensagens porque fazia questão de aparecer em todos os aniversários, churrascos, encontros, despedidas, chá dos filhotes do cachorro do Guto.

Na segunda, Felipinho já estaria em outra agência, provavelmente sendo apresentado como “o novo cara da arte”, e em breve, teria novos amigos, novas piadas internas, novos lugares pra almoçar e reclamar do preço. Enquanto nós ficaríamos sem nosso hobby matinal favorito: atazaná-lo enquanto ele comia um pão na chapa com requeijão.

Mesmo sabendo que sua rabugice faria falta, estávamos felizes por ele. Essa foi uma das razões por que achei que a frase do Vini, era da boca pra fora, uma dessas falácias carregadas pela saudade. Mas, ao contrário de muitas expressões que perdem seu sentido com a repetição descarada ㄧ por pessoas como o cara do violão essa ficou mais forte. E cada vez que um amigo se despedia da agência, eu lembrava com mais atenção daquelas palavras.

E depois de um tempo, elas fizeram sentido; pensa um pouco, puxa da memória; com certeza, você teve alguém muito próximo durante um intervalo muito específico de tempo, mais precisamente, durante uma convivência; de uma viagem, um curso, um trabalho, uma noite ㄧ a famosa amizade de bar ㄧ ou até um amor de carnaval. E então, acaba. Não vai se acabando com os anos, mas desmorona com o cravar da sua própria hora, assim como uma festa. Mais do que isso, assim como uma formatura.

“Mas…formaturas são festas como qualquer outra.” ㄧ você pode pensar enquanto segura a cabeça com as mãos.

Bom, se você acha isso é porque nunca foi em uma e eu vou te explicar a diferença ㄧ caso tenha ido, vamos fingir que não, para eu poder continuar a crônica, beleza!?

Formaturas, seja de colégio ou faculdade, são diferentes. Pra começar, elas são completas, tem gente bonitas ㄧ no mínimo bem vestida ㄧ comidas à vontade, shows ao vivo, pista de dança, lugar pra sentar ㄧ depois dos 30, isso é muito importante ㄧ e um ambiente único. Mesmo que você não seja um formando, você sente a atmosfera de perfume de nostalgia misturado à incerteza do futuro e vê brindes que celebram sonhos. Nesta noite, completos estranhos se tornam melhores amigos, casais recém-formados juram amor eterno, Nazaré e Maria do Carmo sentam na mesma mesa e combinam o próximo churrasco, enquanto uma Glória Menezes, que veio só pelo netinho e ia embora após o primeiro brinde, fuma unzinho com os formandos. Tudo acontece em nome de um sentimento de união e pertencimento, que pela sua intensidade, parece imortal. Até que as luzes do salão se acendem, abrem as portas e o perfume se dissolve.

Entenda que não são encontros falsos, pelo contrário, eles têm entrega e presença; as pessoas curtem, se divertem, aproveitam, compartilham sentimentos…E tudo isso continuará intacto para um futuro reencontro, onde como fotografias, esses momentos merecem uma revisita, ou talvez não, talvez quando elas se cruzarem na rua, sejam só desconhecidos com um passado em comum. Ninguém sabe.

Afinal, nem toda amizade é pra sempre. E acho que tanto o Vini quanto o Felipinho já sabiam disso.

One Reply

  • Carambaaa!!!!! Me fez lembrar de muita gente que ficou no passado justamente porque a formatura acabou!

    Amei o texto nostálgico!

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