Existem muitas lendas de Natal e uma delas, mora comigo.
Idade pra lá de avançada, pelos brancos como a neve, bucho de respeito, vivendo numa casinha rodeada de brinquedos e de gente para ajudá-lo. Todos conhecem a lenda, embora poucos a viram pessoalmente, digo, animalmente. E como um contador de histórias que sou, vim aqui falar sobre o Bom Doguinho.
E posso dizer que ele não esquece de ninguém mesmo, é só olhar o rabo abanando quando um velho conhecido se aproxima, mas que também sacode quando entrega um brinquedinho para um novo amigo. Um gesto de caridade para ser retribuído – jogando de volta para ele.
Algumas crianças chegam cheias de receio e muita curiosidade…mas assim que ele mostra seu encanto, já o chama de Au Au – o seu nome mais popular – e transformam o medo em abraços, que claro, são retribuídos com lambidas.
Morar com um Bom Doguinho é saber que quando anoitece, a preguiça dá lugar a uma disposição instantânea e posso até dizer que isso acontece magicamente, de uma hora para outra. Tudo porque é a hora do passeio e não há chuva, frio, feriado, governo que o impeçam de cumprir o seguinte ritual: como uma rena desgovernada, ele faz o próprio caminho pois quer aproveitar tudo, só que depois de alguns minutos, diminui o ritmo para curtir o passeio, ver um motoboy passar, olhar uma gatinha – e recuperar o fôlego. Conhece as casas de cor e já deixou presentinhos em cada uma – não conta pra ninguém, alguns recebem presentes maiores do que outros – e o embrulho de cada surpresa fica por conta de um pequeno elfo (que gera muitas dúvidas se é loiro ou ruivo) e sua fiel companhia. Ah, os maus garotos também não são esquecidos, eles ganham uma marcação nada perfumada.
Ao final do passeio, o Bom Doguinho – depois de um último lanchinho pra manter a pança – volta pra sua casinha satisfeito com mais uma volta no mundo quarteirão completa e presentes entregues, e o seu ronco pode finalmente ecoar pela noite: Rouuu Rouuu Rouuu.